‘O Senai-SP tem mais estrutura do que muitas escolas da França’

08/04/2015 - atualizado às 16:25 em 06/04/2022

Isabela Barros

Funcionário do Ministério da Educação da França, o professor Alain Leroux, de 50 anos, não imaginava que a sua vida pudesse mudar tanto depois de aceitar o convite para vir trabalhar no Brasil em 2001. Mais especificamente em São Paulo, na Escola Senai “Conde José Vicente de Azevedo”, no bairro do Ipiranga, especializada em sistemas automotivos. Francês, Leroux até hoje se impressiona com a determinação e vontade de aprender dos alunos da unidade, principalmente os da graduação em Sistemas Automotivos que estudam à noite “depois de trabalhar o dia inteiro”.

Tendo se instalado na capital paulista por conta de uma parceria entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai-SP), o Ministério de Educação da França, as montadoras Peugeot e Citroën e a empresa Exxotest, de soluções para automóveis, ele ajudou a criar o curso superior na área na instituição. E a instalar a pós-graduação em motor aberta em março de 2015. Isso entre várias outras missões.

Foto: Everton Amaro/Fiesp
Leroux: determinação dos alunos é destaque nas salas de aula do Senai-SP


Mestre em Tecnologia Mecânica pela Universidade de Maine, em Le Mans, Leroux conta, na entrevista abaixo, que o trabalho com a indústria paulista rendeu vários outros frutos além de ter conhecido, aqui, a mulher com quem está casado desde 2002. E com direito a um filho paulistano, nascido em 2005.

Como é a sua rotina de trabalho no Senai-SP?

 Ajudei na montagem do curso de graduação em automobilística que foi aberto em janeiro de 2012 e na criação da pós-graduação em motor iniciada em março de 2015. Também         colaboro com o intercâmbio de professores do Senai-SP na França e na formação dos docentes aqui. Além disso, contribuo com a preparação de conteúdos de formação usados na graduação e na pós, entre outras atividades.

 Essa é a sua segunda passagem pela instituição, certo?

Sim. Cheguei aqui pela primeira vez em 2001, ficando até 2006. Voltei em 2012 e espero ficar pelo menos até julho de 2016.

Que avaliação você faz do trabalho do Senai-SP?

Em termos de recursos, o Senai-SP tem mais estrutura do que muitas escolas da França. Todas as montadoras estão instaladas no Brasil e essas parcerias com as indústrias são muito boas para os alunos. A unidade do Ipiranga é, sem dúvida, a melhor do país em sistemas automotivos.

Que destaques o senhor apontaria no trabalho desenvolvido pela instituição?

Os recursos oferecidos, o ambiente, a organização.

E entre os alunos, o que mais chamou a sua atenção?

O esforço para estudar. Fico impressionado com os alunos que chegam à noite para assistir as aulas depois de trabalhar o dia inteiro. As pessoas se dedicam para vencer as adversidades. Na França, a formação vem antes da entrada dos profissionais no mercado.

Alguma história em especial?

Pessoas de todas as idades têm boas histórias de dedicação. Um aluno que tinha muita dificuldade de falar em público, por exemplo, nos surpreendeu apresentando um dos melhores trabalhos de conclusão de curso da sua turma. Outro estudante, de 50 anos, trabalha num banco e veio para cá porque quer abrir uma oficina.

Para você, existe uma cultura própria do Senai-SP nesse sentido? Esse clima de esforço e dedicação?

Existe sim. Não temos problemas de disciplina, há um envolvimento com os estudos, com o trabalho. Cada um faz a sua tarefa.

O fato de ser estrangeiro fez alguma diferença em seu trabalho aqui?

Não, nunca me senti discriminado por ser estrangeiro. Sempre quis trabalhar em outro país e não perdi a oportunidade quando vi o panfleto com o anúncio para vir para o  Brasil. Aqui conheci a minha mulher, o meu filho nasceu num hospital na Avenida Paulista. Na rua, as pessoas me pedem informação como se eu fosse daqui.