Mulheres representam 42% dos alunos nos cursos de formação em construção do Senai-SP

30/03/2015 - atualizado às 16:25 em 06/04/2022

Isabela Barros 

Não importa o peso da carga: as mãos que carregam os tijolos são, quase na mesma proporção, masculinas e femininas. Nas salas da Escola Senai “Orlando Laviero Ferraiuolo”, no bairro do Tatuapé, na capital, especializada em construção, as mulheres respondem por 42% das matrículas dos cursos de formação. E se destacam em áreas como edificações, alvenaria e afins. Para professoras e alunas, no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai-SP) não existe diferenciação de acordo com o gênero, basta querer colocar a mão na massa.

“Adoro mexer com cimento”, diz Larissa Assunção, de 16 anos, aluna do segundo semestre do curso Técnico em Edificações na escola. “As aulas que mais sujam a roupa são as melhores”, garante.

Segundo ela, que planeja ser engenheira no futuro, nas disciplinas “todo mundo faz tudo, sem distinção”.

O envolvimento com a formação também é destacado pela estudante Lara Castello, de 16 anos, do primeiro semestre do Técnico em Edificações. “Sou ativa, gosto da ideia de construir casas para as pessoas morarem”, afirma.

Orgulhosa de si desde as primeiras aulas, quando conseguiu dobrar uma peça de aço e mexer com uma serra, ela guarda até hoje a primeira peça de madeira que cortou.

A habilidade no manuseio de “serras perigosas” e “peças muito quentes” também é citada por Beatriz Fogo, de 16 anos, no terceiro semestre de Edificações. “As oportunidades estão aí para meninos e meninas, nunca me senti discriminada por ser mulher”.

Foto: Everton Amaro/Fiesp
A partir da esquerda, Lara, Beatriz e Larissa se dizem orgulhosas em trabalhar com construção


No DNA

Professora de disciplinas ligadas ao trabalho de assentador, revestidor e carpinteiro na “Orlando Laviero Ferraiuolo”, Márcia Rodrigues da Silva, de 29 anos, está acostumada a dar aulas para homens sem que ninguém questione as suas habilidades na área. No caso dela, o amor pela construção está no DNA e na memória afetiva. “Meu pai é mestre de obras, sempre o vi construindo na nossa casa”, conta.

Foto: Everton Amaro/Fiesp
Márcia: inspiração que veio de casa 

 

Afirmando trabalhar num “ambiente igualitário”, ela diz que o desafio de abrir caminho numa área ainda dominada pelos homens só a estimula a querer mais. Hoje, Márcia dá aula no Senai pela manhã, trabalha como fiscal de obra à tarde e faz faculdade à noite. Concluindo a graduação como tecnóloga em Estrutura Metálica, ela pretende seguir com os estudos cursando Engenharia.

Elas estudam mais

Diretor da escola do Senai-SP especializada em construção, Abilio José Weber conta que o machismo observado nas empresas que preferem contratar homens passa longe das salas da instituição. “Aqui as meninas são tratadas com o mesmo respeito que os homens”, diz. “Nunca ouvi um comentário sequer no sentido de que elas não trabalham bem na área”.

Segundo Weber, elas são, aliás, as campeãs das notas altas. “As nossas alunas normalmente estudam mais que os estudantes do sexo masculino”.

Como reflexo do aumento no número de mulheres, a escola do Tatuapé recebeu, em suas últimas reformas, mais banheiros femininos e um vestuário exclusivo para elas. Tudo para receber melhor as experts do tijolo e do cimento que saem de suas salas de aula.