Mão na massa: um recomeço de vida para novos alunos do Senai-SP

30/09/2013 - atualizado às 18:05 em 30/09/2013

Dulce Moraes, Agência Indusnet Fiesp 

Aos 18 anos, ela teve o seu primeiro filho. Depois vieram outros seis filhos e uma tragédia. Ficou viúva, tendo que sustentar sozinha a numerosa família.

Seria uma história comum, como a de tantas mulheres de baixa renda no Brasil, se não fosse por um detalhe. M., aos 46 anos, foi presa.

A experiência, de longos cinco anos, a afastou dos filhos e interrompeu uma parte importante da sua vida, mas não lhe roubou a esperança de viver e de ajudar outras pessoas a se libertarem do estigma de ser ex-presidiário.

M. sonhava que lhe abrissem portas. Hoje, aos 51 anos de idade, quer abrir caminhos para si e para outras pessoas. Ela é a primeira – e, por enquanto, única – aluna da turma de egressos do sistema prisional que serão capacitados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai-SP) no segmento de Panificação, graças ao projeto “Empregabilidade”, uma das ações da parceria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do AfroReggae.

“Estou muito feliz pela Fiesp, pelo Senai-SP e pelo AfroReggae nos dar essa oportunidade. Porque aqui em São Paulo é muito difícil conseguir. A gente cansou de bater em várias portas e ninguém abriu”, afirma M. com um sorriso doce, tão insistente quanto as lágrimas que fazem, vez ou outra, seus olhos brilharem.

Com jeito de menina, a mãe de família de 51 anos de idade, não esconde a emoção e a gratidão pelo momento que está vivendo. “A Fiesp e o Senai-SP abriram a porta pra gente de coração, como se fôssemos da família. É muito importante alguém acreditar na gente assim”, se emociona.

O otimismo de M. é uma mostra de que, mesmo em meio ao maior dos sofrimentos, o coração humano pode ter uma força extraordinária para o bem.

“Lá (na prisão) eu ajudei muitas pessoas. Ensinei a costurar, bordar, fazer crochê, fazer artesanato. Cheguei a ver muitas pessoas sofrerem também e algumas até tirarem a própria vida, devido a tristeza e o abandono. Por isso é tão bom estar aqui fora e poder ensinar alguém lá dentro. E elas saberem que a gente está viva, que tem saúde boa e que tem uma família maravilhosa aqui”.

Há um ano fora do sistema prisional, M. conta que mesmo tendo feito curso de eletricista, não conseguiu emprego algum. “Agora, esse curso (de panificação) é o mais importante, pois a vida toda a gente comprou pão e reclamava”, brinca. “Agora vai poder fazer o próprio pão e com mais carinho, com mais amor. E a gente vai procurar ser bem melhor, com mais higiene. Eu vou procurar fazer o melhor. Afinal, sou a primeira mulher do curso”.

Alimentar o mundo

W. conhece bem os obstáculos de quem ficou encarcerado e tenta voltar ao mercado de trabalho. “É muito difícil, pois, se você não consegue emprego, não tem dinheiro para se locomover, roupa para se vestir, e a documentação não vem para sua mão”, conta o aluno mais velho da turma.

Hoje, aos 53 anos, e há três anos fora do prisional, W. fala também da expectativa que sentiu ao ser libertado após cumprir a sua pena. “No total, eu fiquei 14 anos preso e saí com o ímpeto de arrumar emprego. Mas, aí tive que ir atrás de documentos, eu tinha multas a serem pagas, tinha que manter o aluguel onde moro, tinha que manter a minha esposa, que está presa”.

As marcas de sofrimento e de desânimo ainda estão no olhar de W., mas ele disse que nunca perdeu a esperança. “Tanto que é que hoje eu estou começando o curso. E eu vou me dar muito bem fazendo pão. Vocês vão ouvir ainda falar de mim”, promete.

“Eu já estava desanimando quando o Chinaider do AfroReggae me falou: ‘Vamos lá fazer curso de Panificação?’. Então eu pensei:  ‘É isso mesmo. Vamos lá fazer pão. Vou alimentar o mundo como Jesus fez’”,  profetiza, com um largo sorriso.