Empresários comentam o trabalho de reinserção de egressos do sistema prisional no mercado de trabalho

06/11/2013 - atualizado às 14:15 em 06/11/2013

Dulce Moraes e Juan Saavedra, Agência Indusnet Fiesp

Durante a formatura de dez alunos do curso de capacitação profissional para egressos do sistema prisional, realizada na noite desta terça-feira (05/11) na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), empresários confirmaram seu otimismo com o sucesso do programa “Empregabilidade”.

A iniciativa, resultado de parceria entre a Fiesp, o grupo cultural AfroReggae e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai-SP), contou com um convênio firmado entre a Fiesp e o Sindicato das Indústrias de Confeitaria e Panificação de São Paulo (Sindipan-SP) para assegurar as vagas aos formandos.

Para o diretor titular do Comitê de Jovens Empreendedores (CJE) da Fiesp, Sylvio Gomide, projetos como esse são a única forma de atacar a violência que assola o país. “Tem que dar formação profissional, emprego, tem que ter renda. O egresso não pode sair e ficar procurando emprego. Do contrário ele vai ter dez motivos para cometer outros erros”, afirmou.

Para conhecer o projeto, a Fiesp convidou gestores da área de recursos humanos e empresários no setor de recrutamento. Um deles foi o diretor executivo do Grupo Arezza, Alberto Khzouz, que disse ver com bons olhos a iniciativa. “Esse é um tema que vai crescer muito. Todo mundo tem curiosidade. É muito legal tentar um modelo que ainda é novo em São Paulo e no Brasil”. Segundo o executivo, o maior desafio, agora, é conseguir encontrar uma forma de os departamentos de recursos humanos das empresas receberem essa mão de obra.

Para o diretor titular do Departamento de Ação Regional (Depar), Sylvio de Barros, o tempo vai contribuir para a mudança de visão dos empregadores. Ele ressaltou que, nos próximos meses, os donos das padarias que já contrataram os egressos serão convidados a dar seus depoimentos sobre a experiência. “Precisamos tirar esse estigma. Eles são tão bons ou melhores do que qualquer pessoa”, afirmou. “Eu, por exemplo, preferiria ter um egresso trabalhando comigo. Eles têm uma vontade de fazer as coisas que outras pessoas não têm.”

Ponto de vista compartilhado por Fabio [nome completo preservado, a pedido do entrevistado], um dos empresários do setor de panificação da zona leste de São Paulo que contratou um dos alunos do programa. “O T* [nome preservado, a pedido do aluno] está trabalhando com a gente há uma semana e exerce a função de ajudante de padeiro. Ele se mostra bem interessado e empolgado.”

Segundo Fábio, o tratamento dado ao novo funcionário é igual ao dado a qualquer membro da equipe. “A ideia é essa. Se a pessoa, lá atrás, fez um erro, pagou e hoje está provando que merece, deve ter uma chance. Poucas pessoas entram lá e dão tanto valor ao trabalho como ele está dando.”

Emprego formal e dignidade

T* cumpriu pena dos 18 aos 25 anos de idade. E desde que conseguiu a liberdade, há cinco anos, não conseguiu emprego formal. “Estou sem carteira assinada desde os 18 anos. Até hoje não sabia que o meu patrão conhecia minha situação, mas ele me recebeu muito bem, me envolveu bem com o pessoal”. T* já faz planos com o primeiro salário: “Vou comprar o berço do meu filho, pois minha mulher está grávida.”

Outro formando da primeira turma do curso de panificação para egressos do sistema prisional, promovido pelo Senai-SP, é F*[nome preservado, a pedido do aluno], que falou durante a cerimônia sobre a felicidade de receber o diploma. “Eu agradeço ao Paulo Skaf que nos deu essa oportunidade aqui em São Paulo, pois não tínhamos nenhuma porta aberta. Com persistência, conseguimos encontrar um caminho e uma solução, que é o trabalho, a dignidade. Eu agradeço as palavras do presidente do Sindipan que foi muito franco em dizer que somos todos iguais. Erramos, já pagamos e, agora, é bola pra frente e tudo vai dar certo.”

A noite foi motivo de gratidão para Gleice, esposa de W*, um dos dez alunos formados no curso. “Eu achei boa a oportunidade que estão dando a eles, pois não é qualquer pessoa que faz isso”. Ela disse que o marido não começou a trabalhar ainda por conta do falecimento da mãe, ocorrido nesta semana. “Ele está muito empolgado. No curso, ele ia todo dia, acordava bem cedinho e animado. Eu e meu filho estamos muito felizes pois, em breve, ele começará a trabalhar perto de casa.”

Os familiares dos alunos do curso também são assistidos pelo programa, segundo explicou o coordenador do projeto Empregabilidade, Chinaider Pinheiro. No processo de reinserção a equipe do AfroReggae faz visitas técnicas às residências dos egressos, conversa com as famílias e, na medida do possível, procura encontrar oportunidades de emprego e renda também para os familiares.

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