É ignorância associar emprego na indústria à ideia de ‘chão de fábrica’, dizem alunos do Senai-SP

27/09/2013 - atualizado às 18:56 em 29/09/2013

Alice Assunção, Agência Indusnet Fiesp

Jonathan Jesus Bispo Pereira (18 anos) e Mailson Valério de Oliveira (17 anos) começaram sua preparação para São Paulo Skills em 2013. Apesar da expectativa e da torcida pelo pódio, eles esperam algo mais que uma medalha ao final da competição iniciada quarta-feira (25/09): uma carreira   – se possível, dentro do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo(Senai-SP).

Os amigos se conheceram em 2011 durante o primeiro ano do curso de ferramentaria do Senai-SP e ingressaram juntos na maratona de treinos para a edição estadual do principal campeonato do ensino profissionalizante da indústria no país, o São Paulo Skills.  Eles também têm em comum alguns objetivos profissionais. Ambos querem voltar para o Senai-SP como professores. Mailson, o mais novo, ainda vai mais longe. “Meu sonho é ser um diretor ou coordenador do Senai-SP.”

Desde que ingressaram na escola do Brás, região central da capital, Jonathan e Mailson mudaram seu modo de ver a formação profissionalizante para indústria. Antes engrossavam o coro de quem acredita que trabalhar na indústria significa não ter uma carreira com formação superior, ou seja, ficar apenas na linha de produção. Hoje eles estão convictos de que esse preconceito seja fruto da “ignorância”.

“Você fala que estuda no Senai-SP e a pessoa já pensa em chão de fábrica. Já ouvi muito isso. Eu também já pensei isso antes conhecer de verdade o que é o Senai-SP. Quando você entra aqui, muitas portas se abrem para você em todo lugar”, contou Jonathan.

Embora a preferência dos jovens por profissões com perfil mais administrativo ainda seja maior, o preconceito com relação ao trabalho na indústria aparentemente vem diminuindo. E essa realidade se traduz nos números. Segundo coordenador de atividades técnicas do Senai-SP do Brás, o professor Walter de Souza Ramos, em dois anos a quantidade de turmas da unidade aumentou de 34 para 41. “A gente vem atendendo esse aumento que se deve basicamente por demanda de empresas”. 

Para Mailson estudar em escolas como o Senai-SP e participar de disputas como SP Skills com certeza rende um futuro melhor. Mas “é um caminho de longo prazo”.

“Na minha modalidade eu projeto uma ferramenta que vai construir peças de plástico. Então essa ideia [de chão de fábrica] é coisa de quem não tem conhecimento”, afirmou. “O SP Skills rende bons frutos, mas nada é de imediato”, confirmou.

A perspectiva mais madura sobre carreira de Mailson se deve principalmente ao seu ingresso precoce no Senai-SP. Ele começou a estudar na escola do Brás com apenas 14 anos, época na qual “só queria jogar bola”, lembra o competidor.

“Eu nem sabia o que era Senai-SP. Só queria saber de jogar bola. Então eu tive que amadurecer mais rápido”, avalia Mailson que fez o seu primeiro curso, o de mecânico de usinagem, em 2010. Hoje ele faz curso técnico de mecânica, na mesma sala de Jonathan. Ambos querem fazer faculdade de engenharia.

Jonathan também conheceu o Senai-SP no mesmo ano em que Mailson, mas só ingressou na escola em 2011. Foi seu pai quem o levou pela primeira vez a uma unidade da escola.

“Meu pai me trouxe aqui, eu nem conhecia”, lembra. Ele perdeu o pai pouco depois de ter feito sua primeira prova na unidade do Brás. O pai de Jonathan faleceu antes de ver o filho começar o curso de ferramentaria de corte.  Hoje aluno e competidor do SP Skills, ele afirma que essa não é apenas uma realização pessoal “mas era também o sonho do meu pai”.

A competição 

Jonathan compete pela modalidade de Manufatura. “É um projeto. Eu tenho que construir uma empilhadeira. O projeto que apresentar o produto mais leve, barato e sustentável, dentro das normas, vence”, explica.

As provas do SP Skills começaram na quarta-feira (25/09). Só a unidade Brás do Senai-SP tem cerca de 28 alunos para competir em 22 modalidades.

Uma delas é a de Ferramentaria, modalidade disputada pelo Mailson. Para ele o mais difícil está sendo “o cansaço físico”.

“Eu chego em casa 23h30. Acabo indo dormir depois de meia-noite. E, no dia seguinte, acordo às 5h”, relata o competidor. Mailson mora em Itaquera e todos os dias inicia seu treinamento no Brás às 7h30. As atividades vão até 17h30. Às 19h30 ele está na sala de aula do técnico em mecânica, também pelo Senai-SP.

A rotina de Jonathan é parecida. Ele também treina de 7h30 às 17h30 e depois encontra Mailson na sala de mecânica às 19h30.  “Até junho deste ano eu treinava de 7h30 às 22h porque não estava estudando  o curso técnico”, conta.

A unidade Brás do Senai-SP conquistou uma medalha de ouro na categoria Polimecânica e outra por excelência em Engenharia de Molde no WorldSkills 2013 em Leipzig, na Alemanha.

“A gente trabalha com um robô que tem de resolver determinada tarefa. Por exemplo, transporte de peças. É para sistema de logística”, disse Lucas.  Essa não é a primeira vez que ele explica o que faz no Senai-SP para uma pessoa. E em quase todas as vezes ele não é bem compreendido.

“As pessoas não entendem muito bem o que é o SP Skills. Você tenta explicar a importância disso e eles perguntam se eu ganho alguma coisa”, afirma. Para ele, o maior ganho com a torneio é a oportunidade de disputar algo. “Eu gosto de desafio. Pode ser que dê certo ou não, mas o meu principal objetivo é competir”, acrescentou o futuro engenheiro, segundo suas próprias expectativas quanto ao futuro.