Diferenciais podem estar nos detalhes, defendem designers do Senai Mix Design

01/08/2014 - atualizado às 12:18 em 01/08/2014

Alice Assunção, Agência Indusnet Fiesp

Se o fabricante produz 50 modelagens, que aumente esse número para 54, mostre quatro produtos diferenciados e ofereça-os aos poucos para o mercado, orienta a designer de artefatos de couro e instrutora do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai-SP), Melissa Bosquê.

Foto: Beto Moussalli/Fiesp
Melissa: desafio de inovar na produção sem perder o foco no mercado.

Ela é uma das autoras do box Senai Mix Design Outono/Inverno 2015, formado por quatro livros que reúnem tendências e inspirações para os setores de vestuário, artefatos de couro, calçados e joias folheadas e bijuterias.

“É difícil sair da cópia porque, quando o empresário vai vender, as pessoas já estão querendo o que está na tendência e ele sente a necessidade de seguir esse parâmetro”, reconhece Melissa. “Mas é possível ganhar o volume de dinheiro com o que o mercado está pedindo e, em paralelo, fazer algumas experiências”, complementa.

Melissa destaca que as empresas que têm mais liberdade para sair dessa opção são as que atuam em segmentos específicos.

“A gente conhece uma empresa que fabrica bolsas para cinegrafistas. Ela atende o pessoal que trabalha em TV, portanto não tem muito concorrente e consegue sair mais da tendência”, conta. “Agora quem trabalha com a bolsa para moda precisa fazer realmente o que o mercado aceita, mas sem deixar de ter diferenciais. Se você tem 50 peças, faça 54 e mostre quatro opções diferenciadas”, orienta a designer.

Questão de estilo

O desafio de sair da cópia também se aplica ao setor de semi joias e bijuterias finas. Na avaliação da designer e também autora do Senai Mix Design Maysa Neves Pimenta, o conforto de copiar ainda se sobrepõe ao desafio de criar.

“Não só no setor da joia, mas em todos os setores é muito mais cômodo olhar o que lançou na novela, no desfile e copiar. É importante acreditar no trabalho do designer e ter isso como um norteador, ter a visão de que a marca precisa ter um direcionamento e estilo”, defende.

Embora defenda a independência criativa do fabricante, Maysa ressalta a importância do equilíbrio entre tendência global e o viés da cultura local para emplacar um produto no mercado.

“Não é só uma questão de tendência de moda, mas de consumo. Então pode ser um produto totalmente autoral, mas ele tem de ter uma carinha do que está sendo traçado internacionalmente, caso contrário ele não está inserido no mercado”.

Sustentabilidade

Referência de moda e comportamento, a produção e o consumo sustentáveis de vestuário e acessórios também podem ser aplicados à realidade dos fabricantes de pequeno porte.

A designer Melissa alerta, no entanto, para que a mudança de hábito da empresa ocorra aos poucos. “Não adiantar levar a fábrica de ponta cabeça. O negócio é fazer inovação com uma linha pequena de produto com matéria-prima 100% orgânica e testar a reação dos clientes. Depois ele [empresário] pode investir mais no processo inteiro”, orienta.

Para micro e pequenas empresas

Os cadernos de inspirações do Senai Mix Design Outubro/Novembro – 2015 são voltados para a empresa de micro e pequeno porte, afirma Melissa Bosquê.

“O empresário grande sai para pesquisa, eles estão nas feiras de matéria-prima, têm equipes próprias para esse trabalho. O box é mais um material que ele consegue. Para a pequena e micro empresa, é um material essencial, com todas as informações compiladas para que ele as use no dia-a-dia”, explica a designer.

Há uma preocupação da equipe do Senai Mix Design, segundo Melissa, em adequar as tendências encontradas nas feiras e nos desfiles fora do país para a realidade do consumidor brasileiro. “A gente traz tudo o que viu de matéria-prima em feiras e desfiles lá fora como filtro para o Brasil”, conta.

A designer de joias, Maysa Neves Pimenta, pensou até no empresário que fabrica suas peças sozinho enquanto elaborava o caderno de joias folheadas e bijuterias finas. “Eu enxergo o Senai Mix Design como um orientador para que essas pessoas desenvolvam produtos com diferencial e não tenham que brigar só pelo preço, mas ter seu lugar no mercado com identidade de marca”, garante.